O blogue da nossa biblioteca

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O regresso de "O que ando a ler..."

O blogue da nossa biblioteca abraça novamente a rubrica "O que ando a ler...". 
Desta vez foi a Prof.ª Ilídia Bettencourt que partilhou as suas leituras:

Acabei de ler Milagrário Pessoal, de José Eduardo Agualusa. Desta vez, o escritor angolano escreve sobre as palavras que fazem a nossa língua, tema que me interessa muito, como é natural, uma vez que sou professora de Português.
Uma história de amor improvável serve de pretexto para uma viagem pela língua, em busca da origem das palavras. Ao longo do livro, mergulhamos numa trama de investigação pouco habitual. Aqui não se investigam homicídios, nem contrabandos, nem outras tramas a que a Literatura nos habituou. Neste livro, investigam-se palavras e a sua origem. Parte-se numa viagem rumo à origem dos neologismos que entraram no português. Mais um bom livro de um escritor que aprecio bastante e que não me costuma desiludir.
Partilho convosco o primeiro parágrafo da obra, sobre o poder das palavras, a fazer lembrar o conhecido poema de Eugénio de Andrade.


“As palavras, como os seres vivos, nascem de vocábulos anteriores, desenvolvem-se e fatalmente morrem. As mais afortunadas reproduzem-se. Há-as de índole agreste, cuja simples presença fere e degrada, e outras que de tão amoráveis tudo à sua volta suavizam. Estas iluminam, aquelas confundem. Umas são selvagens, irascíveis, cheiram mal dos pés, fungam e cospem no chão. Outras, logo ao lado, parecem altivas e delicadas orquídeas.”

José Eduardo Agualusa, Milagrário Pessoal



As palavras 
São como um cristal, 
as palavras. 
Algumas, 
um punhal, um incêndio. 
Outras, 
orvalho apenas. 

Secretas vêm, cheias de memória. 
Inseguras navegam: 
barcos ou beijos,
as águas estremecem. 
Desamparadas, inocentes, 
leves. 
Tecidas são de luz 
e são a noite.
 E mesmo pálidas 
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem 
as recolhe, assim, 
cruéis, desfeitas,
 nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade


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